Quando o príncipe Siddartha Gautama renunciou ao seu reinado e
iniciou uma jornada espiritual, seu objetivo era entender o significado
de nossa existência, e não encontrar o caminho da iluminação. Em outras
palavras, podemos dizer que o jovem que um dia se tornaria Buda não
queria atingir o nirvana, mas esclarecer completamente o samsara.
Samsara é o inquietante ciclo que rege nossa existência, reencarnação
após reencarnação. É nascimento, vida, morte e renascimento: uma eterna
roda de experiências, frequentemente marcada pelo sofrimento. A palavra
vem da raiz “samsr”, que significa “circular, passar por diversos
estados”.
No reino de samsara pode haver muitos tipos de experiências e formas
de ser, várias delas sedutoras. No entanto, para o budismo, todas estão
condenadas ao sofrimento. Não existe alívio que perdure, nem promessa de
felicidade que seja cumprida.
“É da natureza de samsara que tudo
venha a ser, por fim, interrompido. Em curto prazo há sucesso: nós
experimentamos segurança, amor, felicidade. Podemos mesmo ser capazes de
transmitir alguma coisa de valor de uma geração a outra, mas se o modo
de vida samsárico é nossa única alternativa, não podemos estabelecer
nenhuma base genuína que faça sentido. A longo prazo, nossas realizações
se desvanecem: não importa o que venhamos a obter, sempre esperamos
algo mais. Esperando, aspirando, desejando e sonhando, a mente comum não
consegue compreender a ilusão quimérica de samsara. Algo sempre está
errado", diz o livro Caminhos para a iluminação: estudos budistas no Instituto Nyingma.
Sem esse entendimento, não podemos acumular força suficiente para
realizar algo de valor duradouro. Aceitar que a vida é feita de perdas e
separações é o primeiro passo para encontrar a harmonia. O segundo é
não projetar a felicidade externamente, seja em pessoas, bens, sonhos ou
ideais. Segundo a doutrina budista, a felicidade está bem mais perto do
que se espera: dentro de você.
O grande desafio é renunciar à aparente segurança de samsara e render-se ao mistério do dharma. De acordo com Buda, no entanto, é tudo
uma questão de tempo: segundo a lei natural do Universo, todos os seres
alcançarão a “outra margem”, mesmo que isso leve um tempo incalculável –
e muitas e muitas voltas na roda de samsara – para acontecer.
Fonte: www.triada.com.br/espiritualidade