16 de set. de 2012

a roda



Quando o príncipe Siddartha Gautama renunciou ao seu reinado e iniciou uma jornada espiritual, seu objetivo era entender o significado de nossa existência, e não encontrar o caminho da iluminação. Em outras palavras, podemos dizer que o jovem que um dia se tornaria Buda não queria atingir o nirvana, mas esclarecer completamente o samsara.
 
Samsara é o inquietante ciclo que rege nossa existência, reencarnação após reencarnação. É nascimento, vida, morte e renascimento: uma eterna roda de experiências, frequentemente marcada pelo sofrimento. A palavra vem da raiz “samsr”, que significa “circular, passar por diversos estados”.

No reino de samsara pode haver muitos tipos de experiências e formas de ser, várias delas sedutoras. No entanto, para o budismo, todas estão condenadas ao sofrimento. Não existe alívio que perdure, nem promessa de felicidade que seja cumprida.

“É da natureza de samsara que tudo venha a ser, por fim, interrompido. Em curto prazo há sucesso: nós experimentamos segurança, amor, felicidade. Podemos mesmo ser capazes de transmitir alguma coisa de valor de uma geração a outra, mas se o modo de vida samsárico é nossa única alternativa, não podemos estabelecer nenhuma base genuína que faça sentido. A longo prazo, nossas realizações se desvanecem: não importa o que venhamos a obter, sempre esperamos algo mais. Esperando, aspirando, desejando e sonhando, a mente comum não consegue compreender a ilusão quimérica de samsara. Algo sempre está errado", diz o livro Caminhos para a iluminação: estudos budistas no Instituto Nyingma.

Sem esse entendimento, não podemos acumular força suficiente para realizar algo de valor duradouro. Aceitar que a vida é feita de perdas e separações é o primeiro passo para encontrar a harmonia. O segundo é não projetar a felicidade externamente, seja em pessoas, bens, sonhos ou ideais. Segundo a doutrina budista, a felicidade está bem mais perto do que se espera: dentro de você.

O grande desafio é renunciar à aparente segurança de samsara e render-se ao mistério do dharma. De acordo com Buda, no entanto, é tudo uma questão de tempo: segundo a lei natural do Universo, todos os seres alcançarão a “outra margem”, mesmo que isso leve um tempo incalculável – e muitas e muitas voltas na roda de samsara – para acontecer.
Fonte: www.triada.com.br/espiritualidade