Abres a porta do carro ainda a sentir o vento frio a passar-te rápido pelas orelhas.
Os teus pés estão húmidos e a areia ficou presa à sola, teimando em
sair. Bates os pés mas não ouves o barulho que deles devia sair porque
as ondas do mar silenciam tudo que o as rodeia. As janelas estão
molhadas mas não chove, é só a humidade e talvez uns chuviscos que não
sentiste por causa do vento offshore da onda que deixaste
passar. São lâminas que te obrigam a semicerrar os olhos e a sentir um
tremer no coração pois vêm lá mais ondas e estás fora de posição, a ver
um outro surfista em posição.
Entras no carro, bates a porta com
força, como a sacudir o enregelo dos ossos que o sol de Inverno teima em
não secar. O motor ruge preguiçoso mas fiel. Metes a primeira e começas
a ter a impressão de que te estás a esquecer de qualquer coisa. Olhas à
tua volta e confirmas que a prancha está entre os bancos, o telefone
numa das gavetas do carro e a carteira no bolso. O cinto está posto e a
embraiagem espera pacientemente pela tua decisão. Sorris porque está
tudo no lugar e só te falta olhar para trás, afinal o carro não encarava
o mar. Espreitas por uma janela, as costas queixam-se e levantas a mão.
Acenas às ondas, à humidade, à chuva, às nuvens e ao frio. Um último
aceno. Arrancas com o carro e vês lá em cima o céu a deixar o sol
espreitar. Até para o ano, Inverno.
Por Diogo Alpendre/ Foto: Ricardo Bravo
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